segunda-feira, 31 de julho de 2017

Cuide de sua saúde mental: Parte 2 (Estratégias de enfrentamento)


         Um dos principais fatores que podem abalar a saúde mental é o estresse. Em publicação anterior, eu abordei os principais conceitos relativos a este estado, com suas respectivas formas de manifestação e sintomas.


 Neste número, trarei:  1) As principais fontes de estresse. Obs: Já que a possibilidade de mudança começa no reconhecimento e identificação dos fatores que geraram o  estresse negativo; 2) Algumas estratégias de enfrentamento para reverter este processo.

 Existem fontes estressoras que podem abalar a saúde mental. Entre estas existem as que estão sob o controle e outras que não dependem somente do indivíduo. São elas:
         Estresse gerado por variáveis ligadas ao macro sistema.

        Entre elas estão : Crise econômica e política do País, insegurança em relação à instabilidade do emprego e violência.

Obs: Apesar da condição de não se ter controle total destas variáveis, algumas iniciativas podem ser tomadas para pelo menos amenizar seus impactos, em que atitudes relativas à prevenção e planejamento podem ser tomadas.

  Estresse ocupacional: Além da insegurança oriunda do clima de  instabilidade gerado pela crise, há também a existência de outras demandas, como: alta solicitação no trabalho acarretado pelo acúmulo de funções; fazer várias coisas ao mesmo tempo; aumento de informações que acontecem em velocidade e  ritmo cada vez maior; desequilíbrio entre empenho e recompensa e finalmente, as relações interpessoais negativas que em muitos casos são  desencadeadas por extrema competitividade, que nem sempre obedecem os padrões éticos de conduta frente à prática profissional.

 Estresse na vida pessoal e nas relações significativas :  
A espinha dorsal deste processo está embasada na forma que o  indivíduo percebe, sente,  planeja e  organiza sua  realidade.  Fazem parte deste escopo: 1) O sistema de crenças que determinam o seu pensamento, interferem nas emoções e moldam a sua forma de agir no meio que se está inserido;  2) A alta cobrança de performance em uma sociedade cada vez mais exigente  ; 3) A adequação dos papéis dentro da estrutura familiar, que em alguns casos paira a incerteza em relação à complexa missão de suprir materialmente e emocionalmente  os entes queridos, entre eles, os filhos. Obs: A angústia e em alguns casos a culpa de não conseguir estar presente em todos os momentos também contribuem para o agravamento deste cenário.
   
           O que fazer quando há interferência constante destas situações?


           De acordo com Lipp (2003), os 4 pilares  para gerenciar os efeitos do estresse negativo são:

       1) Reestruturação cognitiva (revisão de crenças e pensamentos).  

         Método utilizado pela Terapia Cognitivo Comportamental que visa proporcionar  ao indivíduo, recursos para que este possa avaliar seu sistema de Crenças. Através de ferramentas apropriadas, ele terá mais condição de identificar: 
  • As crenças Irracionais, que geralmente são limitantes, não encontram respaldo na realidade e podam o desenvolvimento, gerando o ciclo de mais sofrimento e estresse.   A possibilidade de identificação deste tipo de crença, que é oriunda de  pensamentos e percepções distorcidas,  permite a possibilidade de revisão e transformação da situação desfavorável.
  • As crenças racionais são adquiridas através da percepção objetiva da realidade. Tal condição  permite a pessoa desenvolver estratégias que são pautadas em bases reais. Desta forma, a probabilidade de se obter melhores resultados são mais consistentes.
            2) Atividade física
            Segundo Sharkey (1998), a atividade física é uma importante alternativa para o tratamento relativo à  depressão, devido ao seu baixo custo e por ser recurso eficaz para prevenção de patologias de complexa gravidade. Tal condição  pode levar o indivíduo a desenvolver situações de estresse e depressão. Ex: Doenças crônicas, com suas respectivas e onerosas intervenções. Os estudos que relacionam a atividade física à depressão têm verificado que indivíduos que praticam atividade física de forma regular reduzem significantemente os sintomas depressivos.

       3) Relaxamento
      O relaxamento é uma técnica que visa desenvolver o equilíbrio entre a mente e o corpo. Para que se tenha uma maior efetividade neste processo, deve-se estar ciente de qual será a finalidade  e para quem será administrado, como por exemplo:  

O relaxamento muscular é recomendado para o estresse de natureza física.  Respeitando a natureza e limitações do indivíduo, alongamentos aliados ao processo de respiração costumam ser ferramentas poderosas e utilizadas para atingir resultados satisfatórios para esta necessidade.

O relaxamento psicológico  além de ser importante recurso para  promover ampliação de percepção em relação ao  corpo, sensações e sentimentos, também pode contribuir para o desenvolvimento da criatividade, reflexão, avaliação dos próprios valores e das próprias ideias.  Para atingir o que se pretende, a técnica aliada ao processo de respiração,  instiga a sensibilização dos sentidos através de imagens, sons, etc. 

         4) Boa alimentação:
       Uma boa alimentação prepara o organismo para combater doenças, promover o gerenciamento do estresse e desenvolvimento cognitivo.  

            Além das bases citadas por Lipp, creio que seja importante trazer relevância de outras, como: desenvolver empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro), a qualidade da comunicação, planejamento de tempo e ações.

           5) Empatia:
            Creio que muitos problemas poderiam ser evitados, se houvesse uma disponibilidade do indivíduo em se colocar do outro. Como diz o velho ditado: "O que eu não quero para mim, eu não quero para os outros". Há razões para crer que a utilização deste recurso pode viabilizar uma melhora das relações sociais e qualidade da comunicação. Obs:  Entretanto, deve-se ficar atento para não ocorrer a manifestação exacerbada da outra polaridade, em que a pessoa na ânsia de atender as necessidades dos outros,  acaba deixando as suas próprias  de lado. Tal postura não será saudável para nenhuma das partes, pois enquanto uma poderá se sentir sufocada com o passar do tempo, a outra por ficar acomodada,  poderá restringir a oportunidade de experiências e provável amadurecimento.

           6) Qualidade da Comunicação:
         Segundo Gustavo Matos (2006), a falta de cultura do diálogo, de abertura a conversação e a troca de ideias, opiniões, impressões e sentimentos, é, sem dúvida alguma, o grande problema que prejudica o funcionamento de organizações e países.  Seja através da comunicação verbal ou não verbal, a informação é indispensável para que as pessoas atinjam suas metas. É através da informação que se pode detectar áreas problemáticas capazes de impedir o alcance de objetivos. É também, por meio dela que são avaliados desempenhos individuais e/ou coletivos. E ainda, só através de informações torna-se possível fazer ajustamentos necessários para que a eficiência de ações seja alcançada. Sem diálogo não há comunicação nem solução possível para os problemas sendo que a maioria dos erros, omissões, irritações, atrasos e conflitos são causados por uma comunicação inadequada.

           6)  Planejamento de tempo e ações:
           Tenho observado que a falta de planejamento tem sido grande fonte geradora de estresse para as pessoas, principalmente em época de crise. Controle de finanças, de processos de trabalho e agenda permitem que o mesmo tenha condições de criar estratégias preventivas que possam lhe evitar maiores dores de cabeça em futuro próximo.

           Apesar de ser aparentemente mais trabalhoso no início, o gerenciamento deste processo não só contribui para o bem estar do indivíduo, mas também para o aprimoramento de sua percepção que será de extrema valia nas atividades produtivas e ações que envolvam a comunicação com as pessoas que fazem parte deste cotidiano (capacidade de ouvir e se colocar no lugar do colega/parceiro).

           A gestão de gerenciamento do estresse e qualidade de vida é um trabalho sistêmico que integra várias dimensões (física, emocional, social e espiritual). A visão e intervenção integradas deste processo possibilitam a construção de ações preventivas que contribuem, não só para o gerenciamento do estresse, mas também para a manutenção da saúde mental e bem estar do indivíduo. Creio que o investimento valerá a pena.

Shirleine Ap. Larubia Gimenes
Psicóloga -CRP 06/40017

LIPP, M.E O Tratamento Psicológico do Stress in LIPP, M.E. Mecanismos Neuropsicológicos do Stress. Teoria e Aplicações Clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
MATOS, G.G. A cultura do diálogo: Uma estratégia de comunicação nas empresas. Editora Campus/Elsevier, Rio de Janeiro, 2006
 SHARKEY, B. J. Condicionamento físico e saúde. 4ª edição. Porto Alegre: Artmed, 1998.


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